terça-feira, 29 de junho de 2010

Camocim, lembraças e sonhos

      MARIA CLARA


A flor se abriu, fez-se a primeira,
E era tão clara como a luz do dia
Seu nome foi o mesmo de Maria,
E era tão linda que mais não pudera!


Enfim,enfim!enfim!que logo, a espera!

Mamãe, vovó,papai,vovô,titia...
Quem deles não chorou mais de alegria
Ao abrir -se o botão!Ai quem me dera!


E todos, cada qual o mas contente,
Assim como os Reis magos do Oriente ,
Foram mimos levar á flor -menina.


Ai como invejo a sorte dos felizes,
É que na alma trago cicatrizes,
Porque morta nasceu minha Marina!



Autor: R.B.Sotero


RISCILA, THAIS, SOCORRO, RAQUEL e LANDIN 2ºE

Camocim, lembranças e sonhos


O Livro:

Flamengas & Boqueirões

Escritos em Verso e Prosa

Apresentação

A arte da escrita permite quem a pratica brincar de Deus , guardando-se logicamente as devidas proporções, pois é dado ao escritor o poder de criar, modificar e até mesmo matar os personagens por ele criados em seus escritos, sejam crônicas, contos, romances, poesias, etc.

Nesta singela coletânea Flamenga & Boqueirões escritos em verso e prosa, o amigo leitor irá encontrar um misto de contos e poesias dentro da ótica da realidade e da fantasia. Alguns contos são reminiscências do passado, exemplo: “Cemitério Velho, A fonte Luminosa, A Rua da Gaveta”, etc., ou seja, realmente existiram. Outros são de pura ficção, criados totalmente pela imaginação, exemplo: “Quizília e Tonica Bastião”.

Alguns nomes são reais, outros foram alterados. Na parte de poesias temos as saudosistas, exemplo: “Saudades, O Velho Trem, Festival de Viola”, etc. As que exaltam nossa gente: “Vaqueiro Velho, O Jangadeiro, Vó Janoca”, etc. As que falam da vida (filosofia): “Diálogo, Apelo, Sou”, etc. Além das que exortam os sentimentos: “Réplica, Desejo, Vênus”, etc.

Esta é uma sinopse de Flamengas & Boqueirões escritos em verso e prosa. Espero que os versos e prosas aqui reunidos sejam de seu agrado. Muita inspiração, amor e dedicação foram os ingredientes que resultou nesta obra.

Inácio Santos

Camocim lembranças e sonhos


Inácio Santos
Nasci na aprazível cidade de Camocim- CE, aos 07 de agosto de 1961. Cidade banhada pelas águas do Atlântico. Fui criado menino afeito aos ditames que a natureza tão generosamente nos legou: praias, dunas, manguezais, lagos, etc.
Aos 18 anos tive que ausentar-me em busca de oportunidades que, na época, a cidade não oferecia. Passei alguns anos em outras paragens, mas nunca esqueci minha bela e querida Camocim.
Hoje já alguns anos morando novamente em Camocim, de onde não pretendo jamais sair, homenageio-a com esta simples coletânea de contos e poesias “Flamengas & Boqueirões escritos em verso e prosa”, com todo meu amor e afeto à “Terrinha”, bem como a todos que compartilham deste sentimento.
O autor

Camocim, lembranças e sonhos

JANGADEIRO

Ainda bem de madrugada
Ao despertar da alvorada
Do raio de sol primeiro
Desperta junto com o mar
E sai feliz a cantar
O intrépido jangadeiro

A jangada n’água lança
E cheio de esperança
Se vai para o alto-mar
A Deus lhe entrega a sorte
Para livrá-lo da morte
Reza pra Iemanjá.

Nos dias de pesca boa
De peixes enche a canoa
E o coração de alegria
Quando em terra chegar
Vai logo querer matar
A saudade de Maria.

Mas dias tem que o mar
Nada lhe deixa tirar
Pro infeliz canoeiro
Que mesmo assim não desiste
Com ânimo forte persiste o indômito aventureiro.

E sua mulher lá na praia
Com vento a bater à saia
Olha pro mar ansiosa
Mas logo o seu olhar
Volta tristonho a ficar
Pois não viu a –Graciosa-

E as jangadas ligeiras
Tal qual graças faceiras
Aportam com alarido
E a mulher desolada
Triste, muda, calada
Pois não vê a do marido.

Mais eis que então a jangada
Com sua vela enfunada
De belo porte altaneiro
Aporta com emoção
Aliviando o coração
Da mulher do jangadeiro.


Inácio Santos
In Literário – Outubro 2002.

Camocim, lembranças e sonhos

O VELHO TREM
Lá vem, lá vem o trem! Está quase chegando
A molecada o ouvido no trilho encostando
Outro aponta tênue fumaça que ele vê sozinho
De repente o velho trem desponta lá no Salgadinho.
Resfolegando cansado entra na Estação
Tremenda balbúrdia, gritos, aplausos, que confusão
Os freios ringem gemendo, soltando vapores
Ouvem-se cochichos, risos e choros de velhos amores.
A máquina manobra voltando para o seu lugar
Pois não sabe que amanhã bem cedinho terá que voltar
Levando eu seu bojo corações partidos em ais.
O velho trem cumpriu a sua triste sina
Mas como tudo que começa um dia termina
Um dia partiu para sempre não voltou nunca mais.
Inácio Santos
In Literário – Março 2002

Camocim lembranças e sonhos

 Nostalgia Panteista


Um dia interrogando o nível seio
De uma concha voltada contra o ouvindo
Um longínquo rumor, como gemido,
Ouví plangente e de saudades cheio

Esse rumor tristíssimo escutei
é a música das onda, é o bramido
Que ela guarda por tempo indefinido,
Das solidões marinhas de onde veio.
Homem, concha exilada, igual lamento
Em ti mesmo ouvirás, se ouvindo atento
Aos recessos do espírito volveres.

É de saudade, esse lamento humano
De uma vida anterior, átrio oceano,
Da unidade concêntrica dos seres.


Fonte: E a vida continua...
                                                                                         (Artur Queirós)

domingo, 27 de junho de 2010

Especial R.B Sotero


Mas apesar do embaraço.

Meu amigo mão-de-onça,
me responda companheiro,
você se lembra da festa
que se deu neste terreira:
eu falo dum casamento
que abalou o mundo inteiro!

Aquilo, sim, que era festa!
Como não tem hoje em dia,
dançava cachorro e gato,
bicho comia e bebia,
só não foi muito melhor
por causa da latomia.

Como houvera de esquecer,
se trago aqui na lembrança,
meu amigo Zé da Zilda,
eita festa de lembrança
quem de tal vai se esquecer,
velho, menino ou criança!?

Era a lei dum tal de “mufe”,
que medonha confusão:
a noiva por fim chegava;
mas o padre era que não,
cansado de tanta espera,
pois a espera era em vão,

O noivo mandou tocar
sanfona, gaita, zabumba,
mode o couro comer solto,
parecia até macumba,
baião, forró e xaxado,
samba, bolero e ate rumba!

O povo estava animado,
uma “gaitagem” só,
Zequinha pegou Firmina,
Ficaram que nem um nó
dançando pelo salão,
chega levantam pó!

Porém alguns toques,
Zé macambira, a pedido,
Tocou um toque mais lento
e o noivo já comovido
arroxou mais a Firmina,
por debaixo do vestido.

Parece que ela fez gosto,
chego soutou um suspiro,
e ele assim arrepiado,
na dança fez longo giro,
por detrás de uma forquilha,
caçando por um retiro!

Por ali imprialzinho
um gavião peneirando,
sem ir pra la, ou pra cá,
no mesmo canto rodando,
sem saber que o pai dela,
os dois estava espiando.

Foi Rufina, a sogra dele,
sogra só presta na morte!
Que gritou a Epaminondas:
o cabra perdeu o norte,
ta apalpando a Firmina;
deu um cangapé na sorte!

O que o peste está fazendo?
Parece amancebamento!
Isto assim não pode ser,
porque não tem cabimento;
para pegar nas partes dela,
só depois do casamento!

Foi aí que o pai saltou,
por sima da ligeireza,
bufando que nem um touro,
disto não tenho certeza,
gritando vou te matar,
por causa da safadeza!

Ca.. Ca... Cabra safado,
disse o velho com a gagueira,
dando de garra das armas,
que estavam pela algibeira,
e o noivo sentiu no buxo,
pontadas de caganeira!

Os jagunços do pai dela,
todos cabras bons de briga,
partiram para a refrega,
estava feita a intriga,
tudo por culpa do padre,
que faltou à desobriga.

Foi aí que o pai do noivo,
o velho Sebastião,
O Seu Bastião dos bichos,
coronel mais valentão,
fez fogo no bacamarte
por sima da multidão.

Sua mulher Cabriola
até parece que via,
sendo cega de nascença,
nunca vira a luz do dia,
mas naquele reboliço
o facão era seu guia!
E naquele ruge-ruge
ninguém não tinha rasão,
noiva, noivo, sogra e sogro,
todos brigavam em vão,
por causa de coisa de coisa besta:
do noivo passar a mão!
Epaminondas, coitado,
levou um soco na cara,
Zequinha saiu correndo
e a noiva gritando pára!
Rufina caiu deitada,
Bastião tacou-lhe a vara!

Bastião e Epaminondas,
Rufina mais u'a Raimunda,
Zequinha e um tal Linha-Fina,
era aquela barra funda!
Foice, machado, facão...
mão na cara e pé na bunda!

Então Maria Firmina,
a pobre noiva inocente,
vendo seu pai apertado
no meio daquela gente,
gritou: larguem o meu pai,
se não eu viro a serpente!

Dando de garra na foice,
metida pelo frechal,
também pegou dum machado
e dum pedaço de pau,
ainda caçou a enxada;
mas não tava no quintal!

Mas nisto o padre chegava,
o vigário Severino
vindo doutra freguesia
que o desta perdera o tino,
pra fazer o casamento,
mandou bater logo o sino!

Que diabo se passa aqui?
Gritou o padre enfezado,
vamos parar com a rixa,
cada qual para o seu lado,
os noivos aqui em frente,
vamos que estou vexado!

Todo mundo de joelho!
Senão nem faço o casório,
e nem dava pra tirar,
falou de lá um simplório
e o padre lhe respondeu,

pois bote um supositório!

Foi Zequinha do caju
ajoelhar-se primeiro,
depois Maria Firmina
ao lado do companheiro,
que perdia por ali
a condição de solteiro!

A noiva não era bela;
mas tinha lá seu encanto,
os peitos deste tamanho,
a bunda lá outro tanto,
chega o padre até babava,
posto de pé no seu canto.

Ó seu vigário, se avexe,
já me cansa esta capela,
e dizia Firmina aflita;
mas o padre, sem cautela,
não tinha pressa de nada
e os olhos nos peitos dela!

Seu vigário eu lhe afirmo,
ta me dando uma frenesim,
case ou desocupe a moita,
que não vai ficar assim,
que sou donzela, decente,
tire seus olhos de mim!

O padre sem disfarçar
deu ainda uma olhadela;
mas indagando do noivo:
você quer casar com ela?
O cabra disse que sim,
vou cair na esparela!


Promete fidelidade
na saúde ou na doença
até que a morte os separe?
Confirme ou peça dispensa,
o cabra quis se negar,
mas assinou a sentença!

Pela indecisão do noivo,
o padre deu-lhe um esbregue:
seu menino, tenha tento,
pegue de jeito ou não pegue,
se não quer diga que não
e a mão dela me entregue!

Terminada a cerimonia,
recomeçou a folia:
o sanfoneiro tocava
foi parar no outro dia
comida que nem prestava,
bebida que nem se via

ainda teve uma briga,
coisa mais sem fundamento,
foi quando algum safado,
fez um brinde ao casamento:
viva o noivo, viva a noiva,
com os ovos do noivo “dento”

o noivo então virou bicho,
e “bebo” saiu a esmo,
perguntando a todo mundo,
mas quente que um torresmo,
quem foi que disse tal coisa?
E o povo dizia: eu mesmo!

E foram muito felizes,
aquilo era um bom casal,
isto sem contar os chifres,
por ser coisa mais banal,
ela puxou a mãe dela,
uma da outra é igual!

                                             R. B. Sotero